domingo, 25 de outubro de 2009

Último pensamento do livro que estou terminando de ler...

"De fato, uma donzela tem demasiadas ilusões, demasiada inexperiência, é o sexo o grande cúplice de seu amor, para que um homem possa se sentir lisonjeado, enquanto uma mulher conhece toda a extensão dos sacrifícios que tem a fazer. Uma é arrastada pela curiosidade, por seduções estranhas à do amor, a outra obedece a um sentimento consciencioso. Uma cede, a outra escolhe. Esta escolha já não é por sim uma imensa lisonja? Dotada de um saber quase sempre caramente pago por desgostos, dando-se, a mulher experiente parece dar mais do que a si própria. Enquanto a donzela, ignorante e crédula, nada sabendo, nada pode comparar nem apreciar, ela aceita o amor e estuda-o. Uma instrui-nos, aconselha-nos em uma idade em que gosta de ser guiado, em que a obediência é um prazer. A outra tudo quer saber, e onde esta se mostra apenas ingênua, mostra-se profundamente terna. Aquela apresenta-vos um só triunfo, esta obriga-nos a combates perpétuos. A primeira só tem lágrimas e prazeres; a segunda, voluptuosidades e remorsos. Para que uma donzela seja amante, deve estar demasiado corrompida, e então abandona-se com horror. Enquanto que uma mulher possui mil meios de conservar ao mesmo tempo o poder e a dignidade. Uma extremamente submissa, oferece-vos tristes garantias de repouso; a outra perde demasiado para não pedir ao amor as suas mil metamorfoses. Uma desonra-se apenas a si; a outra mata em proveito do amante a família inteira. A jovem tem apenas uma garridice, e crê ter dito tudo despindo o vestido. Ao contrário, a mulher tem-nas em grande número e oculta-se em mil véus. Enfim, ela acaricia todas as vaidades, e a noviça apenas lisonjeia uma. Há, além disto, no amor da mulher de 30 anos, certas indecisões, terrores, receios, perturbações e tempestades que o amor de uma donzela nunca pode oferecer. Chegando a essa idade, a mulher pedi ao jovem que lhe restitua a estima que lhe sacrificou. Só vive para ele, ocupa-se do seu futuro, deseja-lhe uma linda existência, torna-lhe a vida até gloriosa. Odedece, pede e ordena, abaixa-se e eleva-se e sabe consolar em mil ocasiões em que à donzela é apenas é dado gemer. Enfim, além de todas as vantagens de sua posição, a mulher de trinta anos pode se tornar jovem, representar todos os países, ser pudica, e embelezar-se até com a própria desgraça. Entre ambas encontra-se o salto incomensurável do previsto ao imprevisto, da força à fraqueza. A mulher de trinta anos satisfaz tudo, e a donzela verdadeira nada pode satisfazer." Balzac.

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