terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Balanço de 2010.

Faz tempo que meu blog não é destinado à postagens de cunho pessoal. Geralmente faço postagens acadêmicas, de artigos, teses e etc. Fico literalmente de "Olho na cultura".  Mas lembro que uma das últimas postagens que fiz desse teor nesse espaço foi exatamente na virada do ano de 2009 para 2010. Fiz um breve balanço do que havia feito no ano que estava terminando. Agora pretendo fazer o mesmo, afinal de contas é um rito de passagem importante em nossas vidas. Aliás, todos os rituais de passagem são importantes para a vida em sociedade.
Ratifico algumas coisas e modifico outras com relação a última postagem que fiz. Continuo considerando esses rituais (Natal e "Virada de ano") como banais, por mais que sejam importantes para a perpetuação social. Mas eu os acho banais por questões psicológicas. As lembranças que tenho desses rituais da época de minha infância não são das melhores. Por isso não os faço como algo tão cristão ou cheio de emoção como a maioria das pessoas fazem. Quando cheguei na adolescência, passei a fazer dos dois rituais de passagem verdadeiras esbórnias. Acredito que era para esquecer o que havia passado ou tentar fazê-los diferente. Hoje já sou mais madura e os encaro de maneira bem diferente, também. Esse ano já farei "festinha" de Natal em homenagem a minha mãe, que se sente só por conta do falecimento de meu pai e por conta da vinda de dois irmãos meus, dos três que tenho, aqui para Belém. Já sei lidar melhor com traumas do passado. Participarei dos rituais lembrando que em minha vida pessoal muitas coisas aconteceram.
Eu e meu companheiro adquirimos nossa independência doméstica e continuamos crescendo enquanto casal. A rotina pesa em qualquer situação, mas parece que sabemos lidar com ela, a priori. Independentemente da forma. Ele é uma pessoa importante na minha vida: é meu cia, que está do meu lado, que não joga comigo, que me escuta, que me compreende, que enxuga minhas lágrimas, que as estimula... é meu cia em sentido pleno. Márcio, eu te amo.
Na vida profissional e acadêmica, dei passinhos curtos, mas que foram e serão significativos.
Não é fácil ser professor em um país que pouco valoriza ou se importa com a educação. Não é e nem sei se será tão cedo prioridade do Estado investir nela. Por conta disso, eu sempre digo que ser professor nesse país é ser herói. Eu sou extremamente utópica e continuo achando que as poucas palavras que dou aos meus alunos (sou professora de Sociologia), podem criar sementes que germinarão no futuro. Por isso, faço questão de continuar trabalhando com adolescentes, que de uma forma ou de outra, são o futuro desse país. A única coisa que gostaria é de ter um sobre peso menor de trabalho e mais dignidade enquanto profissional. Por conta disso, prestei concursos para outras instituições e devido aos estudos e esforços, fui super bem classificada em uma instituição pública de ensino Federal. Espero se convocada.
Infelizmente não farei meu doutorado esse ano, e provavelmente não será onde moro. Pena que nas universidades públicas, assim como em outros setores, o velho e conhecido "QI" ou disputas ideológicas e políticas façam com que bons alunos e/ou profissionais não estejam ali dentro dos muros dos "semi-deuses". Não aprofundarei a questão, afinal de contas essa minha postagem está sendo muito mais um desabafo e um balanço do que qualquer outra coisa. Meia palavra basta. Acho.
Espero que em 2011 eu seja melhor profissional, cia, amiga, filha e irmã do que fui em 2010. Conheci novas pessoas, me afastei de algumas e continuarei na eterna busca pelo "belo". Vou procurar aquilo que me faz bem, que me traz coisas boas e que me sustenta enquanto Ser Humano. Como é difícil viver nesse mundo cruel. Mundo de jogos, vaidades, intrigas. Infelizmente as pessoas ainda usam o próximo, seja por carência, por vaidade ou sei lá o quê, mas eu não perderei a ternura, jamais.
Finalizo o desabafo/balanço mandando todas as vibrações para meu pai, onde quer que ele esteja, o homem que me fez. Eu sou a mulher do jeitinho que sou a partir da imagem dele. Às vezes até me acho meio homem por conta disso, mas o vigor, a força, a mulher batalhadora e forte é super bem casada com a vaidade, a ternura, a sensibilidade e o carinho, atributos culturalmente atribuídos às mulheres. Acho que é por aí.


Depois eu volto "De olho na cultura".

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Calem a boca nordestinos!

Fui duramente criticada por pessoas da região sudeste quando postei o texto abaixo em fóruns de discussão. Traduzindo as críticas: disseram que eu estava sendo tão preconceituosa quanto as pessoas da região sul e sudeste. Não acredito que eu tenha sido preconceituosa, apenas senti o texto emotivamente. Lembrei de quando Clifford Geertz, antropólogo norte amerciano, diz que nós, seres humanos, somos "essencialmente" (culturalmente) etnocêntricos e como temos dificuldade de nos desprendermos de nossas pré-noções, assim como temos dificuldade de termos alteridade. Sou filha de índia piauiense e preto maranhanense. De quebra, nasci na Amazônia, onde vivo até hoje. Sempre senti na "pele" o preconceito vinculado à ambas regiões que eu tenho ligações genéticas e afetivas e provavelmente esse seja o motivo de ter me identificado, em partes, com o texto abaixo. Infelizmente fui interpretada erroneamente. Não tive a intenção de ser grosseira com as pessoas, até porque adoro esses lugares também, mas não aguento mais ver pretos e índios seram chamados de vagabundos até mesmo por intelectuais. Fazer o quê? Além disso, é triste ver tanta miséria nas duas regiões por conta de questões históricas criadas a partir de um colonialismo imposto dentro do nosso próprio país, o país do "mito da democracia racial". O autor do texto deve ter escrito em um momento de catarse? Pode. Só acho exagero dizerem que o texto é xenófobo e preconceituoso. Pimenta no olho alheio é refresco. Acho que é por aí.
-
Calem a boca, nordestinos!!


A eleição de Dilma Rousseff trouxe à tona, entre muitas outras coisas, o que há de pior no Brasil em relação aos preconceitos. Sejam eles religiosos, partidários, regionais, foram lançados à luz de maneira violenta, sádica e contraditória. Já escrevi sobre os preconceitos religiosos em outros textos e a cada dia me envergonho mais do povo que se diz evangélico (do qual faço parte) e dos pilantras profissionais de púlpito, como Silas Malafaia, Renê Terra Nova e outros, que se venderam de forma absurda aos seus candidatos. E que fique bem claro: não os cito por terem apoiado o Serra, outros pastores se venderam vergonhosamente para apoiarem a candidata petista. A luta pelo poder ainda é a maior no meio do baixo-evangelicismo brasileiro. Mas o que me motivou a escrever este texto foi a celeuma causada na internet, que extrapolou a rede mundial de computadores, pelas declarações da paulista, estudante de Direito, Mayara Petruso, alavancada por uma declaração no twitter: Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!?. Infelizmente, Mayara não foi a única. Vários outros brasileiros também passaram a agredir os nordestinos, revoltados com o resultado final das eleições, que elegeu a primeira mulher presidentE ou presidentA (sim, fui corrigido por muitos e convencido pelos amigos Houaiss e Aurélio) do nosso país. E fiquei a pensar nas verdades ditas por estes jovens, tão emocionados em suas declarações contra os nordestinos. Eles têm razão! Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste! Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país? Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo? Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos, pasmem, PAULISTAS!!! E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano. Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo carioca (?) Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2. Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura?Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner? E Não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melofias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia?Ah! Nordestinos? Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros à força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país. Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo? Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar. Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca? Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de cachorras. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê! Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda poderiam levar suas meninas para um dia de princesa (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!! Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato Grosso do Sul, que lhes exporte o sertanejo universitário, coisa da melhor qualidade! Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é o QUANTO esse trabalho infantil vai render. Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais, ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso, mas o que importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa! Minha mensagem então é essa: Calem a boca, nordestinos! Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol. Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes. Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: O sertanejo é, antes de tudo, um forte!? Respeitemos todos os povos, raças, tribos e nações! (fiz alteração na última frase.)
Fonte: http://www.crerepensar.com.br/index.phpoption=com_content&task=view&id=204&Itemid=26





sábado, 9 de outubro de 2010

Até Deus votou em Plínio de Arruda!

Diante de tanta hipocrisia, até Deus votou em Plínio de Arruda. Foram tantas opiniões contraditórias e propostas sem nexo dos adversários no primeiro turno que Deus não aguentou e votou em Plínio, candidato que ele considerava mais preparado. Rsrs. Em quem será que ele votará no segundo turno? Estou curiosa...

sábado, 2 de outubro de 2010

"Olhando Belém, enquanto uma canoa desce um rio..." Nilson Chaves.


Vista do "Teatro da Paz", Pça da República, centrão da cidade.

É muito bom quando escutamos pessoas que moram no "Brasil" (sul e sudeste) falarem bem de Belém e do Norte de uma forma geral. Geralmente, vincula-se imagens depreciativas à região Amazônica. De uma forma geral usam alguns atributos sui generis: "terra sem lei", "terra de índio" (como se índio não prestasse), "terra aonde os jacarés andam na rua", "terra sem tecnologia" e assim por diante. Sou da Amazônia, nascida em Macapá. Pouco conheço minha terra, por isso me considero paraense e sou completamente apaixonada por Belém, cidade que me abriga há cerca de 21 anos. Aqui tem cheiro bom, tem cultura transbordando, tem gente bonita, tem boa música, tem gente inteligente, tem negro, tem branco, tem índio, tem gente. Não admito que falem mal do lugar que moro. Não admito isso apenas por ser antropóloga, mas por amar essa cidade, que é gostosa de viver.
Estou escrevendo essa postagem porque recebi por e-mail um texto de um escritor do "Brasil" chamado Zuenir Ventura. Esse texto me fez repensar muitas coisas que ouço de pessoas que migram do "Brasil" para cá. Antes de conhecerem Belém a rotulam com uma imagem preconcebida e depois que chegam, se surpreendem. Alguns se apaixonam pela terra, pelas pessoas, pelo cheiro e pelo sabor antropologicamente maravilhoso que existe por aqui. Leiam o texto e sintam vontade de conhecer a cidade. Tenho certeza que serão bem recebidos. Belém, eu te amo!!!!

Pça. Batista Campos. Bem ao ladinho de minha casa.

-

Só vendo (Zuenir Ventura)



Acostumados com o clichê preconceituoso que acredita não haver vida inteligente fora do eixo Rio-São Paulo, nos surpreendemos quando encontramos alguma atividade cultural em cidades do chamado "interior" ? o "centro" somos nós, claro. Por exemplo: onde é possível reunir cerca de 650 mil pessoas, um terço dos moradores, para tratar de um assunto meio fora de moda, a leitura? Pois acabo de ver o fenômeno em Belém, na XIV Feira Pan-Amazônica do Livro, um dos três principais eventos do gênero no Brasil, este ano dedicada à África de fala portuguesa. Houve shows com Gilberto Gil, Lenine, Emílio Santiago, Luiza Possi, mas o des taque foram os R$30 milhões faturados com a venda de 500 mil volumes, superando, segundo os organizadores, a Bienal do Rio.

Há cidades brasileiras que só vendo. A capital do Pará é uma delas. Além de ser uma das mais hospitaleiras do país, gosta de seu passado e é hoje um exemplo de como revitalizá-lo. Já escrevi e repito que a intervenção que o arquiteto Paulo Chaves fez no cais da cidade, transformando armazéns e galpões na monumental Estação das Docas, é uma obra que não deve nada à que foi realizada em Barcelona ou Nova York (o prefeito Eduardo Paes devia ir lá ver). Outro genial exemplo de reaproveitamento é o centro onde se realiza a Feira, o Hangar, um gigantesco espaço que antes, como diz o nome, servia de estacionamento para aviões.

E não fica nisso. Há roteiros culturais como o do núcleo Feliz Lusitânia e seu Museu de Arte Sacra, onde se encontram uma Pietá toda em madeira, o São Sebastião de cabelos ondulados e a famosa N. S. do Leite, com o seio esquerdo à mostra dando de mamar. Sem falar nos museus do Encontro e de Gemas do Pará, e numa ida a Icoaraci para ver as cerâmicas marajoara, tapajônica e rupestre.

Para quem gosta de experiências antropológicas, recomenda-se ? além dos 48 sabores regionais, a maioria, do sorvete Cairu ? uma manhã no mercado Ver-o-Peso, onde me delicio nas barracas de banhos de cheiro lendo os rótulos: "Pega não me larga", "Amansa corno", "Afasta espírito", "Chora nos meus pés". Com destaque para o patchuli, que a vendedora me diz ser o odor de Belém. Mas antes deve-se passar pela área dos peixes: douradas, sardas, tucunarés, enchovas, piranhas, tará-açus. "Esse aqui é o piramutaba", vai me mostrando o nosso guia, o cronista Denis Cavalcanti; "aquele é o mapará, olh a o tamanho desse filhote".

Desta vez, o ponto alto da visita foi uma respeitável velhinha fazendo o comercial do Viagra Amazônico para mim e o Luis Fernando Verissimo: "O sr. dá três sem tirar, e depois ainda toca uma punhetinha". Isso com a cara mais séria do mundo, sem qualquer malícia, como se estivesse receitando um remédio pra dor de cabeça. Só vendo.
 
                    Mercado "Ver-o-Peso"

                                                                                                             Estação das Docas

Só vendo...

       














                  Indiazinha Karajá vive no Mato Grosso. Está aqui representanto a beleza indígena da Amazônia.


sábado, 14 de agosto de 2010

Te mandei um passarinho...

"Te mandei um passarinho..." Prosas e versos dos índios do Brasil.


"É importante saber que não é
só a escrita em papel que é válida.
Sabe por quê?
Porque nosso povo já viveu muitos
anos sem participar da escrita e
diretamente comunicaram
uns com os outros através da voz,
dos gestos ou dos desenhos."

Nelson Xacriabá
-
Esse livro, "Te mandei um passarinho" - prosas e versos de índios do Brasil é fruto do trabalho coordenado pelo antropólogo Bessa, que tive a oportunidade de conhecer no CIPA em São Paulo. O livro mostra poesias e textos escrito por diversos indios do Brasil e é um belo trabalho antropológico, visto que mostra a escrita do OUTRO com uma visão bem diferente da escrita do branco. É um trabalho de uma sensibilidade incrível e que vale a pena ler do início ao fim.

Vale a pena!

sábado, 7 de agosto de 2010

De caco a espetáculo: a produção cerâmica de Cachoeira do Arari (ilha do Marajó) por Anna Maria Alves Linhares

Disponibilizo nessa postagem os links que dão acesso ao meu trabalho de mestrado concluído na Universidade Federal do Pará (UFPA) no ano de 2007, sob a orientação da professora Dra. Jane Felipe Beltrão e avaliado por Denise Schaan e Roque de Barros Laraia. Analisei a produção e consumo dos objetos cerâmicos copiados de peças arqueológicas produzidos no município de Cachoeira do Arari, na ilha do Marajó.

Link da página do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais: http://www.ppgcs.ufpa.br/index.php?option=com_content&view=article&id=140&Itemid=53

-


-
Espero que gostem e boa leitura!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

E a novela continua...

Hoje pela manhã, o secretário de educação do Pará, Luís Cavalcante, recebeu uma comissão de professores da escola Dom Pedro I (a qual eu também faço parte) para uma reunião que havia sido marcada para tratar do assunto referente um desconto indevido no contracheque dos professores feito pela secretaria da escola citada.

Foto: Anna Linhares, agost.2010


Foto: Anna Linhares, agost.2010



O secretário chamou para fazer parte da reunião seu assessor e o funcionário responsável pelo preenchimento das folhas de pagamento dos servidores do Estado do Pará. De quebra, expomos todos os problemas que ocorrem na escola, principalmente no que diz respeito o relacionamento direção/corpo de professores, como coação, perseguição e abuso de poder. Resumindo: o secretário se comprometeu em devolver o dinheiro de todos os funcionários em menos de duas semanas diretamente na conta corrente.
Mas o que eu quero mostrar com essa postagem, não é a "bondade" do secretário (que está fazendo nada mais do que seu dever) ou um avanço do governo do Estado do Pará. O meu verdadeiro objetivo é mostrar que NUNCA devemos baixar a cabeça por medo de perseguição, seja ela do tipo que for e muito menos deixar de ir atrás de melhorias na nossa vida, seja ela em casa, no trabalho, na vida pública e social.
As coisas ruins ainda acontecem no nosso país por sermos coniventes com situações como essa.
Não devemos NUNCA calar qualquer tipo de injustiça.

Amanhã teremos outra reunião com o Conselho de Classe da escola. Essa reunião será composta pelo corpo de professores, pelo assessor do secretário de educação, pelo corpo técnico da escola e obviamente pela diretora da escola.


Organizamos uma pauta de questões que queremos expor para a direção da escola. São principalmente questões acerca da relações interpessoais.
-
Confesso que estou tensa com a reunião, pois a mesma será uma espécie de catarse, onde colocaremos "pra fora" tudo que nos incomoda.
Veremos como terminará essa novela. Vamos esperar que seja da melhor maneira possível e que a situação ocorrida possa servir de exemplo para atitudes mais humanas daqueles que estão no poder.

Mas que descarga emocional provocado por um drama heim? Drama esse que poderia ser evitado.


segunda-feira, 2 de agosto de 2010

"Pede a banda pra tocar Dinorah,

olha nós outra vez no picadeiro..."

É meu leitores. Aqui estou eu novamente para mais um desabafo.
Em meu trabalho, inicio o segundo semestre com um baita susto! Para quem não sabe, sou professora da rede estadual de ensino do Estado do Pará. Ministro aulas de Sociologia e como todos bem sabem, a realidade da educação pública nesse país não é das melhores: escolas sucateadas, professores mal pagos e mal instruídos, alunos desinteressados, dinheiro que deveria ser investido em educação desviado e por aí vai... Por conta do péssimo cenário da educação no nosso Estado, no início de 2010, a categoria resolveu entrar em greve, infelizmente um dos únicos recursos que ainda temos de luta. "Um dos", repito. Bom, a diretora de uma das escolas que ministro aulas, Dom Pedro I, insatisfeita com a greve que os professores fizeram, visto que "prejudica" os "meninos", como ela mesmo fala, "resolveu" enviar TODAS as faltas referentes à greve que fizemos, que não durou 1 mês. Em meu contracheque particularmente, tive um desconto de 943 reais. Alguns companheiros tiveram um desconto de 1. 500 reais e outros receberam o contracheque em BRANCO. Você, caro leitor, que me lê nesse exato instante, consegue imaginar o que é abrir seu contracheque e ver que não tem absolutamente nada para você pagar suas contas? Isso configura assédio moral e/ou psicológico e afeta a dignidade humana!
O que é mais intrigante é que a diretora supracitada enviou as faltas da greve de forma ilegal, pois de acordo com as negociações, as faltas não deveriam ser enviadas. Além disso, a greve é um instrumento legal e DIREITO de todo trabalhador insatisfeito com suas condições de trabalho.
A digníssima diretora colocou culpa até no pobre digitador dos contracheques que nada tem a ver com o autoritarismo enraizado nela mesma.
O que fizemos? Jogamos merda no ventilador. O mínimo. De 57 professores, reunimos uma comissão de 10 professores (eu estava e estou na comissão) e fomos atrás dos direitos. Hoje paralisamos as aulas e prontamente acionamos o SINTEPP (Jurídico) que nos deu a orientação do que deveria ser feito. Saindo do Sindicato dos Professores, fomos à Seduc (Secretaria de Educação). Agendamos para hoje mesmo uma reunião com o assessor do secretário de educação. O secretário muito preocupado com a situação (estamos em ano eleitoral), convocou uma reunião extraordinária com a comissão amanhã pela manhã dizendo que resolverá a questão. Saindo da reunião com o assessor, fomos à Ouvidoria e prontamente fizemos uma denúncia contra a supracitada senhora que há tempos já vem usando de abuso de poder, autoritarismo e coação contra os trabalhadores da educação. Pronto! Lavei minh'alma.
Ah, a imprensa só não apareceu no local pois não conseguimos contatos e alguns jornais se recusarem de falar sobre o assunto pois estão sendo financiados pelo governo do Estado do Pará.
Não aguento mais ver o professor num picadeiro. Não somos palhaços, meus caros leitores, somos EDUCADORES. A sociedade precisa de todos nós, profissionais da educação. Como faço parte de uma equipe que não aguenta esse tipo de opressão e que tão pouco "escuta calada", tomamos as providências e vamos esperar o que acontecerá nos próximos capítulos.
Leitores, vamos escolher melhor as pessoas que irão reger nosso país. Esse lugar precisa avançar! As eleições estão chegando e as mudanças precisam acontecer!
Votem em Plínio de Arruda! HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA. Foi só para descontrair!
Depois trago outras informações.

domingo, 1 de agosto de 2010

Semana Cultural

Depois de tempos sem postar, retorno ao blog para falar um pouco da semana que tive. De 25 a 30 de julho tive a oportunidade de estar em São Paulo (capital). Foi muito bom. Fui com meu companheiro, Márcio Couto Henrique, com a intenção de participar do IV CIPA (Congresso de Pesquisa Autobiográfica) que ocorreu na USP (Universidade de São Paulo). Além de conhecer muita gente nova e interessante, de quebra coordenei a sessão de comunicação oral do eixo “Corpos, saúde e cuidados de si: narrativas e (auto) formação".




A discussão do grupo foi muito interessante e o que me chamou atenção foi a composição do mesmo: basicamente pessoas do norte e nordeste. Isso mostra o quanto as discussões estão saindo do eixo sul/sudeste. Isso é bom demais! Trabalhos instigantes e polêmicos, como de uma baiana que falava sobre a ignorância (falta de informação) de algumas mulheres baianas no que diz respeito ao assunto AIDS, dentre outros. A seguir deixo o link do encontro para meus seguidores terem noção do encontro:

http://www.ivcipa.fe.usp.br/eixo_pt.htm
 
Mas minha ida à São Paulo não se restringiu apenas ao CIPA. Além de ter tido a oportunidade de participar e coordenar uma sessão nesse congresso internacional tive a oportunidade de rever amigos paraenses e meu irmão, que nos hospedou em seu apartamento. Revi a cidade, visto que já havia conhecido São Paulo. Andei pela loucura expressa do lugar e por vezes me pegava entrando nessa loucura, mas lembrava: “aqui não tenho horário!”. Como ficamos hospedados próximos da Paulista, fomos ao MASP, tomamos cerveja na Augusta, fomos numa baladinha adolescente num lugar chamado “Milo Garage”. Me senti mais jovem do que nunca! Fizemos lanche na “Bella Paulista”, fomos ao Museu da Língua Portuguesa, Pinacoteca e comprei bastante na José Paulino e me emocionei na Estação da Luz, lembrando de Alceu Valença: “Lá vem chegando o verão...!” Mas, pena que fazia frio... linda, linda, linda.





De quebra, fomos à Livraria Cultura. Gente, confesso que fiquei um pouco impressionada. Na última vez que fui a São Paulo, não visitei a mesma. Minhas visitas à livraria sempre se restringiram a internet. Fiquei tão impressionada que precisamos voltar mais uma vez por conta da dimensão do lugar. Na imagem a seguir mostro uma parte da livraria e eu estou na foto. Cadê eu? Encontrem-me:





Sabe criança quando pega uma panela de brigadeiro quente e não consegue comer tudo e acaba queimando a língua?? Essa sou eu entrando na livraria, principalmente na parte dos livros referentes às ciências humanas. Hahahahaha. Tudo o que eu lia, anotava e tinha vontade de comprar, vi por lá. Aquilo me deixou tensa, visto que não tinha dinheiro para levar tudo. Mas, tirando ali, colocando aqui e pensando nas prioridades, trouxe algumas obras e coloco as referências para meus leitores também obterem quando tiverem oportunidade. Comprei:


1. Movimentos sociais no século XXI, de Maria Glória Gohn;

2. O que é trabalho, de Suzana Albornoz;

3. Sociologia da Cultura e das práticas culturais, de Laurent Fleury;

4. O conceito de Cultura, de Leslie White;

5. Direitos Humanos no Brasil, de Marco Mondaine;

6. Sociologia Ambiental, de John Hannigan;

7. Ensina e aprender Sociologia, de Maria Aparecida Bridi e outros;

8. Sociologia para jovens do século XXI, de Luiz Fernandes e outros;

9. A sociedade em rede, de Manuel Castells, e;

10. Quando fui outro, que é uma reunião de poemas e poesias de Fernando Pessoa, que amo MUITO.

Comprei livros para usar em sala de aula, para estudar para concurso, para meu doutorado e para ler antes de dormir bem cansadinha. Se tivesse condições financeiras teria trazido Schaan, Bourdieu e outros sobre cultura e consumo, mas como estou bem dotada de livros para doutorado, deixei para depois e falarei com Schaan para ver se ela me disponibiliza seu livro com um descontinho, afinal de contas, seu livro estava custando 100 reais na Livraria Cultura.

Bom, foi uma semana deliciosa, cultural e de quebra falei com amigos bons e bons amigos. Procurem as referências dos livros, pois vale a pena, mesmo!

Em meu último dia em São Paulo, recebi uma ligação de minha irmã que mora em BH dizendo que eu havia ganhado uma passagem para vê-la em BH! Que máximo! Provavelmente irei vê-la em agosto ou setembro. Assim, quase fecho minha virada cultural na região sudeste. Quem sabe ano que vem o Rio de Janeiro (my love) me espere.

Para finalizar meus escritos de forma leve e gostosa, postarei um texto de Pessoa desse livro que comprei. Amanhã inicia o segundo semestre e já iniciará com muito estresse, pois a diretora de uma das escolas que dou aulas, Dom Pedro I, fez questão de enviar as faltas referentes a uma greve que fizemos no início do ano por melhores salários e PCCR da categoria. Ela que nos aguarde!

Eu mando o texto, ótima semana e excelente segundo semestre para TODOS que me lêem! Um cheiro!

Deixei atrás os erros do que fui,
Deixei atrás os erros do que quis
E que não pude haver porque a hora flui
E ninguém é exato nem feliz.

Tudo isso como o lixo da viagem
Deixei nas circunstâncias do caminho,
No episódio que fui e na paragem,
No desvio que foi cada vizinho.

Deixei tudo isso, como quem se tapa
Por viajar como uma capa sua,
E a certa altura se desfaz da capa
E atira com a capa para a rua.

Pessoa.




Saudade de Almeida Jr.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Nunca fomos tão brasileiros: São João, Copa do Mundo e as eleições, por Gilmar Matta.

Caríssimas(os) vivemos em dias de festa!!! Afinal de contas como diz a música de uma antiga banda de rock de Brasília chamada Plebe Rude "nunca fomos tão brasileiros", essa conotação nacionalista e até mesmo provocativa da banda revela a face de um Brasil marcado pela sua diversidade cultural e pela contradição de atos que atentam contra a dignidade da sociedade brasileira. Vivemos em dias, ou melhor, em um mês de festa proporcionado pelo calendário judaico-cristão no qual comemoramos São João Batista e com isso revelamos de Norte a Sul do país parte da riqueza de nossa cultura herdada dos colonizadores portugueses como o culto aos santos e manifestações associadas a esta prática religiosa: festas, danças, bebidas e comidas que em solo brasileiro assumiu conotações particulares. Ao lado disso, estamos vivenciando dias de festas com o evento da Copa do Mundo que de quatro em quatro anos transforma a Nação e na qual manifestamos com vigor o nacionalismo exaltado na execução do hino e nas cores da bandeira nacional presentes: nas ruas enfeitadas, nas casas, nas repartições públicas, nas lojas, no vestuário e nos acessórios que usamos e com isso declaramos que "nunca fomos tão brasileiros" como neste atual momento.

Vivemos dias de festa, vivemos dias de HORROR em que um evento mundial faz com que a esqueçamos os problemas da dura realidade do cotidiano, como se estivéssemos voltando no tempo, mais precisamente nos eventos ocorridos em 1970 por trás dos bastidores da política, enquanto o povo vibrava com a conquista de mais um campeonato mundial. Nunca fomos tão brasileiros quando muitos sofreram com o autoritarismo dos anos de chumbo, com o descaso dos palhaços que circulam no Planalto, no Congresso, na Câmara de Brasília e roubam a nação, com a educação presa num sarcófago, com a falta de políticas públicas que possam garantir dignidade às pessoas, com a crise da saúde, falta de emprego, com a biopirataria e a venda de sangue indígena, com a construção de Belo Monte, com o Kaos da administração pública tanto a nível municipal quanto a nível estadual. Nunca fomos tão brasileiros como nesses dias em que vislumbramos a arte do futebol e gritamos: Pra frente Brasil!!!, vai Kaká!!! E assim seguimos nossas vidas.

Vamos celebrar São João Batista mais não podemos nos esquecer que até ele bateu de frente contra os poderosos que cometiam as injustiças com a população de sua época. Vamos celebrar, exaltar o nacionalismo não apenas na Copa do Mundo, mais também nos simples gestos, na reivindicação de nossos direitos e na promoção de uma política comprometida com o povo, afinal agosto vai chegar com o ritual que antecede as eleições e com os bajuladores atrás de voto também. E somente tendo uma consciência crítica separando o jóio do trigo poderemos dizer que "nunca fomos tão brasileiros" quando outubro passar.

Um grande abraço.
Gilmar Matta da Silva

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Bonecas Karajá: formação documental da coleção Natalie Petesch (1986) do Museu Paraense Emílio Goeldi por Anna Maria Alves Linhares


Leiam meu artigo sobre coleção etnográfica, mais especificamente acerca das "bonecas" Karajá:
http://seer.ucg.br/index.php/habitus/issue/view/38
Basta procurar o título do trabalho no índice da revista e baixar a partir do programa PDF.

Conheçam mais sobre a cultura indígena a partir da documentação de peças etnográficas.


quarta-feira, 19 de maio de 2010

Das gavetas para a academia por Walter Pinto.

A redação abaixo foi escrita para o jornal da Universidade Federaldo Pará, Beira do Rio,  a partir de uma entrevista feita com Márcio Couto Henrique (meu companheiro, rsrs). O intuito de Walter era falar sobre o livro de Márcio, resultado de sua tese de doutorado, que foi modificada e virou um livro publicado pela Editora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro:


Na obra A apologia da história ou o ofício do historiador, Marc Bloch (1886-1944), um dos maiores historiadores do século XX, ensina que fonte histórica é tudo aquilo que fala sobre o Homem. Para o medievalista francês fuzilado pelos nazistas por sua militância na resistência francesa, qualquer reflexão produzida pelo homem interessa a mais pessoas do que a ele próprio. Neste sentido, os diários íntimos escritos ao longo dos séculos – a prática cultural de escrever sobre si – se justificam como fonte privilegiada para o estudo não somente da história como também das demais ciências centradas no homem.
A história dos diários íntimos remonta ao século XVI e está vinculada às transformações ocorridas no início da Idade Moderna, com ênfase no surgimento da imprensa e, consequentemente, ampliação do universo alfabetizado. Relevante papel desempenharam as novas religiões protestantes advindas com a Reforma. Para além do incentivo à leitura da Bíblia, elas estimularam a devoção interior por meio do exame de consciência. Essas experiências possibilitaram o isolamento e a busca do homem em se conhecer. Neste contexto, estabeleceu-se uma literatura autógrafa favorecida pela leitura individual e pela escrita de si. Os diários íntimos surgem, então, como verdadeiros confidentes de seus autores. No século XIX, aquela forma de literatura autógrafa atingiu grande profusão, notadamente durante o Romantismo, época de acentuado desejo pelo autoconhecimento humano. Em Um toque de voyeurismo: o diário íntimo de Couto de Magalhães (1880-1887), o historiador Márcio Couto Henrique, professor da Faculdade de História e do Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia, da Universidade Federal do Pará, ao analisar o diário de um controverso herói da Guerra do Paraguai, discute sobre causas e finalidades da escrita de diários íntimos. Uma das justificativas mais recorrentes é a da construção da imagem que se pretende deixar para os pósteros, perspectiva que coloca ombreados literatos, como o francês Rosseau, a quem se atribui a noção da verdade existente na confissão sincera, e o brasileiro Gilberto Freyre, um dos introdutores dos diários na pesquisa científica brasileira.
Outra justificativa muito empregada é a do autoaperfeiçoamento, a escrita como exercício para correção de procedimentos. Entre os cultores mais notáveis desta forma de terapia está Bronislaw Malinowski, que, meditando sobre o significado de seu polêmico diário, concluiu pela possibilidade de ajudá-lo no controle de seus apetites sensuais e na eliminação da lascívia que o atormentavam no trabalho de campo. Enfrentar a solidão, reter experiências vividas para torná-las acessíveis a qualquer momento estão entre as muitas finalidades apontadas pelos escritores de si.
Márcio Couto revela que, apesar da esfera de intimidade a que estão circunscritos, os diários esboçam um desejo de comunicação. "Penso que é possível aos historiadores fazerem uma leitura desses registros sem agredir a privacidade do autor”, revela. "O grande desafio é fugir de abordagem que valorize as excentricidades ou que trate os temas de forma jocosa. No final das contas, o que o autor revela sobre seu tempo e lugar é mais importante do que o que revela sobre si". Essas informações constituem o que o historiador chama de dimensão social dos diários, conceito em que inclui a linguagem, que se constitui em código sobre valores, como certo ou errado, moral ou imoral, em determinado tempo. Dizem respeito às relações sociais e, como tal, são de interesse das Ciências Humanas.


Couto de Magalhães e as suas imagens opostas

Em Um toque de Voyeurismo (Eduerj, 2009), versão modificada de sua Tese de Doutorado em Ciências Sociais, orientada pela professora Jane Felipe Beltrão, Márcio Couto apresenta os resultados das análises do diário do general Couto de Magalhães (1837-1898), escrito entre os anos de 1880 e 1887.
Mineiro, bacharel em Direito, presidente da Província do Pará aos 27 anos, e das Províncias de Goiás, Mato Grosso e São Paulo, o general procurou, em público, construir a imagem de um homem forte, um soldado condecorado pelos serviços na Guerra do Paraguai. Não por acaso, optou por ser retratado nas telas com o uniforme de general, para reforçar a imagem pública que construiu de si.
A imagem que sobressai de seu diário íntimo, no entanto, é completamente diferente da construída para o público externo: um homem frágil, hipocondríaco ao extremo, ansioso, com medo da velhice e da pobreza. Há, também, registro de sonhos homossexuais com índios, negros e brancos, detalhadamente escritos em nheengatu – língua geral amazônica, utilizada pelos jesuítas para comunicação com os índios – para dificultar o acesso de possíveis curiosos.
Nas mãos de um escritor sensacionalista, o lado onírico do general seria um veio fácil de explorar. Mas, "nas cuidadosas mãos" do historiador Márcio Couto, no dizer de Sérgio Carrara, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o que importou foi trabalhar a tensão do diálogo entre as anotações íntimas do general e as questões da sua época.
Era um tempo “supostamente marcado pelos rigores da ciência médica, que defendia o ideal de família higiênica e burguesa, com o homem chefe de família vivendo no mesmo lar com sua mulher e filhos”. Couto de Magalhães estava, porém, na contramão: teve várias mulheres, três filhos, mas nunca coabitou com nenhuma delas. “Seu diário falava das mulheres e do casamento sempre em tom de desprezo. Um dos filhos dele viveu na Ilha do Marajó, fruto de relação com uma mulher paraense. São estas questões que discuto em meu livro”, explica o historiador.

Diários livres do fogo e do lixo

Segundo Márcio Couto, “mesmo com a ampliação da noção de fonte histórica a partir da chamada Nova História, os historiadores ainda não atentaram para a riqueza dos diários como fonte de pesquisa. Em parte, por conta da dificuldade em lidar com um tipo de fonte tão específica, que pelo fato de ser escrita de forma espontânea, na esfera da intimidade e em primeira pessoa, possui um ‘efeito-verdade’ que a muitos assusta”. Em quatro anos de pesquisa, o historiador da UFPA não encontrou um único livro escrito a partir de um diário íntimo específico. No máximo, encontrou coletâneas de artigos tratando de diversos diários e cartas.
Demonstrando preocupação com o destino dado aos diários – o lixo ou o fogo –, Márcio Couto está engajado num movimento voltado à criação de arquivos para guarda de diários íntimos. Ao mesmo tempo, pretende sensibilizar os historiadores e demais cientistas para a importância da escrita de si na pesquisa em Ciências Humanas.“Tenho uma coleção composta por 15 diários íntimos, que me foram doados por pessoas comuns que aceitaram, de bom grado, a ideia de ver seus escritos íntimos sendo devassados em pesquisas acadêmicas”, conta o pesquisador.
“Meu propósito é criar, na UFPA, um arquivo de guarda de diários, cartas, memórias pessoais, confissões e todo tipo de escrita de si, tornando-os disponíveis para a pesquisa”. Em breve, devem surgir as primeiras monografias de conclusão do curso tratando de diários íntimos escritos por pessoas comuns de Belém, ponto inicial para futuras pesquisas nesse novo campo de estudo.

Ver matéria e entrevista na íntegra:








segunda-feira, 17 de maio de 2010

Divulgando o XXV ENECS

Não custa nada divulgar o XXV ENECS (Encontro Nacional do Estudantes de Ciências Sociais).

http://xxvenecs.blogspot.com/

A programação está boa. Na minha época, nunca conseguiríamos trazer esse povo da região sudeste. Que bom que as coisas mudaram pela UFPA. E pelo jeito, para melhor. Participarei.
Divulguem! Participem!

terça-feira, 4 de maio de 2010

Quintas de História e Educação no Minuto da Universidade

"Quintas de História e Educação" é um projeto coordenado por Márcio Couto Henrique (meu esposo. Rsrs). O objetivo do projeto é contribuir com a formação dos discentes do curso de História. Transpor o conhecimento teórico à prática. A matéria sobre o projeto "Quintas de História e Educação", exibida no "Minuto da Universidade" já está disponível no site da UFPA. Não deixem de assistir e divulgar!! O link é esse:

http://www.portal.ufpa.br/interna_minutodauniversidade.php



Vejam e divulguem!

sábado, 24 de abril de 2010

Belo Monte não deve pacificar Altamira.

Belo Monte não deve pacificar Altamira - 19/04/2010
Local: São Paulo - SP
Fonte: Valor Econômico
Link: http://www.valoronline.com.br/

Daniela Chiaretti

Que Altamira precisa de um projeto de desenvolvimento, ninguém discorda. Mas o apelido do município de 100 mil habitantes, " Princesinha do Xingu " , soa sarcástico quando se dá uma olhadela na cidade de infraestrutura inexistente. O que Altamira tem de bonito é o rio, embora a disposição das mesas nos botecos da orla, curiosamente, dê as costas ao Xingu. A polêmica em torno a como melhorar a região acende se as fichas são colocadas na hidrelétrica de Belo Monte. Basta uma caminhada pela 7 de Setembro, a rua comercial da cidade, ou pelos armazéns do porto, para sentir que a simpatia à usina de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões não é unanimidade.
Nos vidros da ótica A Turmalina, um adesivo verde ( " Sou a favor de Belo Monte " ) escancara a predileção ao projeto. " Claro que sou a favor! Altamira precisa da usina " , entusiasma-se o cearense Genival Alves da Costa, morador na cidade há 30 anos. " E olha que tenho dois lotes na região que vai ser alagada e que estão produzindo, um tem cacau, o outro, pasto. " A mulher ao seu lado no balcão escuta o que ele diz, faz cara feia, dá de ombros e some pela porta dos fundos. " Lucineide é minha esposa. Ela é contra " , explica. " É muito religiosa. Tem as ideias de Dom Erwin na cabeça " , continua, citando o bispo da Prelazia do Xingu, uma das mais fortes vozes de oposição à hidrelétrica. Em Altamira, Belo Monte divide famílias.
Seus quase 100 mil habitantes se alinham em três frentes. Há o grupo do que são claramente a favor, o dos que estão radicalmente contra e a maioria da população que não faz ideia do que pensar. Nos dias que antecedem o leilão, contam-se histórias de um gaúcho que alugou um prédio para montar a segunda churrascaria da cidade, antecipando-se à concorrência, aos clientes que ainda não existem e à própria decisão de se fazer a usina. Um empresário já contraiu empréstimo de R$ 700 mil para construir um prédio apostando no boom econômico da hidrelétrica que ainda é de papel.
" Ao contrário do que as pessoas pensam, o leilão não irá celebrar o final do embate " , diz Ana Paula Souza, coordenadora da Fundação Viver, Produzir e Preservar (FVPP), que existe há 20 anos e é a principal entidade dos movimentos sociais na Transamazônica. " Aqui há um movimento de resistência à usina há mais de 30 anos. Jamais será como Tucuruí. Esta luta contra Belo Monte está longe de acabar. "
Costa, o dono da ótica, diz que se a hidrelétrica não sair, está " programado para ir embora para Goiânia " , onde mora um filho. O comerciante parece ter todas as respostas. " A usina vai trazer asfalto e benefícios " , pontua, dizendo que Altamira " caiu depois da morte da irmã Dorothy " . Os acusados de serem os mandantes do assassinato da missionária Dorothy Stang viviam na cidade, lembra. O declínio de Altamira, acredita, aconteceu porque a região teria ficado na mira da fiscalização federal, como a operação que fechou madeireiras ilegais. " A represa está longe daqui, o efeito vai ser o de uma enchente forte do rio " , assegura. Mas o que vai acontecer aos araras, jurunas e caiapós que vivem nos 100 quilômetros de rio onde a água vai diminuir? " Não tem índio na Volta Grande " , irrita-se. Para ele, o único risco de Belo Monte é repetir Tucuruí e " não dar assistência ao pessoal alagado. "
Altamira é um lugar fora da lógica do Sul e Sudeste. Fica a 380 quilômetros de Tucuruí, mas só em 1998 começou a receber energia elétrica da usina inaugurada 14 anos antes. Depois das operações do Ibama e da Polícia Federal nas madeireiras, a elite local puxou uma grande passeata - contra a polícia. Enviar e-mail é teste de paciência, mas à noite é comum ver moradores com laptops nas cadeiras de plástico da orla, aproveitando a melhor conexão da cidade. Há tráfego constante de caminhonetes L-200 ao lado de carros velhos e carroças puxadas por jegues. A demanda por médicos é enorme: os que atendem em Altamira podem ganhar R$ 30 mil ao mês.
" Altamira é uma fronteira " , diz Ana Paula, da FVPP. " A trajetória desta região é marcada pelo saque das riquezas " , continua. Primeiro foi o ouro, depois a madeira, agora é a água, lista. " Gente que defende a obra às vezes tem este mesmo discurso predador. " Na opinião dela, para receber um empreendimento da magnitude de Belo Monte, que pode dobrar a população da cidade, a região teria que estar razoavelmente organizada. Ela teme o caos urbano que se anuncia. " O risco é de a obra trazer ainda mais problemas sociais para o próprio Estado. " A tentativa da fundação é descolar o debate de Belo Monte da necessidade de desenvolvimento da região. " A proposta da usina não tem nada a ver com a intenção de fazer algo para esta área. Se o rio não estivesse aqui, nem ligariam para a gente. "
É a posição contrária à de seu marido. Rainério Meireles da Silva, coordenador do campus da Universidade Federal do Pará em Altamira, é um entusiasta da hidrelétrica. " Belo Monte é um grande projeto se for estabelecido dentro de uma estratégia de desenvolvimento regional. E eu penso que isso é possível de ser feito " , argumenta. " Se pudermos aplicar R$ 50 milhões a R$ 100 milhões em educação, ganharemos muito " , diz, referindo-se aos recursos para fazer decolar o Plano de Desenvolvimento Regional que devem estar acoplados à obra. Ele chegou a Altamira em 2002 e vê mudanças positivas na cidade no período. No campus, à época, eram apenas 12 professores e 400 alunos; hoje são 100 docentes e 1.300 alunos.
Na cidade, os humores em relação a Belo Monte oscilam à medida em que se ande em direção aos lugares mais baixos. Nas palafitas que ficam às margens dos igarapés Altamira e Ambé, cerca de 16 mil pessoas, segundo o projeto, terão que se mudar porque as casas serão alagadas. Luis Xipaia, liderança de índios que vivem na cidade há muito tempo, mora às margens de um dos igarapés. " O PAC, para nós índios, é um programa de destruição " , diz. " Virão muitos aventureiros à nossa região, aumentará a criminalidade. Não é bom. " No porto, em uma das balsas que ficam ancoradas e funcionam como bares ou mercados, o funcionário Robson Alves da Silva diz que não é a favor da obra. " Vai afetar muito os ribeirinhos. E acabar com as praias, que é nosso lazer no verão. Aqui dá movimento direto, vem muita gente das cidades vizinhas. "Na rua de comércio, Pedro Soares, gerente de uma das lojas Armazém Paraíba, nota que as vendas de colchões, fogões e geladeiras aumentaram 20% a 25% em relação ao mesmo período de 2009. " São pessoas de Belém, de São Paulo, de Minas " , diz. A procura por móveis de escritório é tanta que ele sugeriu à direção da empresa que estude trabalhar com esta linha de produtos. " Sou a favor da usina, mas tenho medo. E quando acabar a construção, como vai ficar? "

Kaiapó





quinta-feira, 15 de abril de 2010

O Museu do Marajó pede socorro! Anna Maria Alves Linhares.

Hoje foi publicado o artigo postado no blog dia 17/03/10. O artigo foi escrito por mim e publicado na revista eletrônica "Revista Museu - cultura levada a sério".



http://www.revistamuseu.com.br/artigos/art_.asp?id=23434

Leiam, comentem e conheçam a revista!



Bom final de semana para todos meus seguidores e leitores.

Belo monte pode levar índios à guerra!

A oposição à hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, está unindo grupos indígenas distantes e muito diversos. Uma ideia em discussão é montar uma aldeia multiétnica no ponto onde se prevê a construção da barragem. Na região da Volta Grande, o trecho de 100 quilômetros que sofrerá o impacto do desvio das águas, jurunas, araras e caiapós temem que a usina acabe com os peixes e inviabilize o transporte pelo Xingu. Os caciques dizem que os índios não foram ouvidos e que se o governo insistir com Belo Monte, irão à guerra. Uma sinfonia de galos é o despertador de quem vive na terra indígena arara da Volta Grande do Xingu, no Pará. Começa às 4h e segue pela madrugada com pausas ritmadas, espécie de tecla soneca da floresta. Lentamente as portas das malocas se abrem e alguns vão pescar. As crianças são as últimas a pular da rede em mais um dia sem aula, porque a professora está fazendo curso na Vila da Ressaca, a comunidade do garimpo a 15 minutos de barco. Às 6h, com o dia já claro, o rádio de alguém começa a funcionar bem na hora em que o locutor faz comentários sobre um travesti. A bizarrice cala os galos. Em minutos, toda a aldeia está de pé. Em pé de guerra, os araras e seus "parentes", os índios das outras etnias, podem ficar logo. A ameaça está no ar, por mais esquisita que pareça agora, quando a aldeia cheira a café e cuscuz de milho e algumas mulheres estão metidas no Xingu a lavar bebês e panelas. "Já divulgamos um documento para que todos tivessem conhecimento da luta indígena", lembra José Carlos Arara, 30 anos, metade da vida como cacique das 20 famílias que vivem aqui e mais algumas pela redondeza. Ele se refere à carta que caiapós, xipaias, jurunas e araras da região do Xingu, e mais guaranis e ianomâmis, encaminharam em dezembro ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lá dizem que vão resistir aos planos do governo de construir a segunda maior hidrelétrica do Brasil justamente neste canto do Pará. "O Xingu pode virar um rio de sangue", avisam. O Xingu nesta manhã de quarta-feira não poderia estar mais tranqüilo e prateado. Parece mesmo ser a "casa dos deuses", a tradução mais aceita do seu nome tupi. É inverno na Amazônia e o Xingu se comporta como se espera, muito cheio. As voadeiras de Altamira, os barcos a motor típicos da região, trafegam sem problema neste trecho onde o rio faz a curva. Tudo o que é baixo está submerso: árvores, ilhas e pedras. Não há sombra das praias do verão, o lazer preferido de índios, garimpeiros e ribeirinhos que vivem por aqui ou dos lavradores, fazendeiros e comerciantes da cidade. Lá embaixo, no fim da curva, a muitas dezenas de quilômetros e depois de várias cachoeiras, está Belo Monte. É o pivô da discórdia. Hoje, Belo Monte nomeia um punhado de casas na beira da Transamazônica, a uma hora de Altamira e bem no fim da curva do Xingu. Para o governo Lula, é o nome da principal obra do PAC, uma hidrelétrica que os críticos dizem pode custar R$ 30 bilhões e, segundo técnicos envolvidos no projeto, em dez anos há de ser a segunda usina do Brasil em geração de energia. Para os índios do Xingu "é o pesadelo que a gente vive", nos termos do cacique arara. Os índios do Xingu escutam falar de planos para barrar o rio há mais de 30 anos. Em 1975, a Eletronorte começou a pesquisar a área e fez uma escolha faraônica: construir seis usinas, batizando todas com nomes indígenas. A versão Kararaô das hidrelétricas sofreu forte oposição dos índios de toda a bacia e ultrapassou fronteiras. O líder caiapó Raoni fez uma cruzada internacional apoiado pelo roqueiro inglês Sting. Os caiapós organizaram o 1º Encontro das Nações Indígenas do Xingu, em Altamira, em fevereiro de 1989. Eram 600 índios pintados para a guerra. A foto da índia Tuíra esfregando o facão no rosto do então diretor de engenharia da Eletronorte José Antonio Muniz Lopes, hoje presidente da Eletrobras, exibia a hostilidade indígena aos planos dos brancos de mexerem no rio que consideram sagrado (uma cena que se repetiu há dois anos, em versão mais sangrenta, quando os caiapós se irritaram com a apresentação do engenheiro da Eletrobrás Paulo Rezende, o rodearam e ele acabou ferido em um braço). Kararaô foi arquivada, mas os estudos foram retomados e o projeto ressurgiu em uma versão em que parte da terra indígena Paquiçamba, onde vivem jurunas, e Arara da Volta Grande, seria inundada. No desenho atual, isto não vai acontecer. Mas o problema agora é outro: pelo traçado de Belo Monte, o risco é que nos 100 quilômetros desta curva de rio falte água. "Nós povos indígenas não vamos ser sufocados de jeito nenhum", diz José Carlos Arara ao Valor. "Vamos declarar guerra ao governo brasileiro caso não desistam de querer construir." Seus vizinhos da outra margem do rio, os juruna liderados pelo cacique Giliarde, falam no mesmo tom. "Já mandamos o nosso recado, já foi dada a conversa nossa. Se tiver barragem, vai ter guerra." O líder juruna continua: "Para fazer Belo Monte tem que passar por cima dos índios. E passar por cima dos índios é a morte." A articulação indígena já começou em todo o Xingu. Quando James Cameron, o cineasta de "Avatar", soube de Belo Monte e foi seduzido a conhecer a região, aportou justamente nesta aldeia arara. O batismo de Cameron na Amazônia foi há 20 dias. Havia uns 80 índios de 13 aldeias. Tinham acabado de matar um bando de porcos do mato e suas tripas ainda estavam perto do rio quando o diretor chegou com mulher e equipe. Cameron teve o rosto pintado, gravou depoimentos, passou a noite no barco e retomou as conversas pela manhã. Ao jornalista do "The New York Times" que acompanhou o evento ele disse que a "hidrelétrica é a quintessência do que mostramos em Avatar: o confronto entre a visão de progresso da civilização tecnológica às custas do mundo natural e das culturas indígenas que vivem ali." Leôncio Arara, 72 anos, avô de José Carlos e que vive naquele pedaço de terra desde que nasceu, traduz o encontro à sua maneira. "Ele escutava a gente e o outro repassava para ele. Disse pra mim que doía no coração dele aquela barragem." Leôncio, o homem sábio da aldeia, confessa que vive pensando só em Belo Monte. "A vida aqui é tranqüila. Temos a grande riqueza do rio, buscamos caça, temos batata, macaxeira, milho, feijão e arroz na roça. Pode ser que eu não alcance, mas para meus netos, meus bisnetos, vai acabar a fartura. O tracajá, o cari, os peixes vão sumir. Até nosso transporte, sem água, como vai ser?" No encontro com o cineasta, por dois momentos os índios pediram que todos os brancos se retirassem, inclusive Cameron e companhia. Ficaram sozinhos sob a mangueira. Ninguém sabe o que falaram e eles não contam muito. Mas começa a tomar corpo a ideia de montarem uma aldeia com as diversas tribos do Xingu nas proximidades do Sítio Pimental, onde os empreendedores querem construir a barragem principal. Ali, pensam em instalar três famílias de cada tribo e montar uma espécie de resistência física à obra. O plano é não permitir que "construam a parede". Enquanto o presidente Lula reage à pressão das empreiteiras, prepara o leilão do dia 20 e diz, "em alto e bom som", que irá fazer a hidrelétrica, os grupos indígenas armam a estratégia de pressão. Cameron, que voltou ao Brasil para lançar a versão de "Avatar" em DVD, retorna à Volta Grande amanhã. Desta vez vai a uma das aldeias caiapós do Bacajá, um afluente do Xingu no trecho em que a vazão de água pode ser reduzida. A atriz Sigourney Weaver, a cientista de "Avatar" mais conhecida por "Alien", deve ir junto. Raoni e o sobrinho Megaron são esperados, assim como outros índios do Mato Grosso. "Parentes" que vivem na cidade de Altamira, em palafitas à beira dos igarapés que encherão com o reservatório, também engrossarão o grupo. A luta indígena contra Belo Monte uniu tribos muito distantes e grupos muito diferentes entre si. Também provocou baixas. Ninguém gosta de falar disso, mas o nome de Paulinho Paiakan causa constrangimento. O líder caiapó do sul do Pará foi à audiência pública em Altamira, em setembro, e faria parte da minoria indígena a favor da usina. "Parece que os caiapós o baniram", conta um índio. O maior e mais guerreiro grupo do Xingu, os caiapós, com suas diversas lideranças, não concordam sempre com tudo, mas a oposição às hidrelétricas no Xingu é ponto de honra. Eles se sentiram ofendidos quando o ex-ministro Edison Lobão disse que "forças demoníacas" impediam a construção de Belo Monte. Mesmo que não sejam diretamente afetados pela usina, os caiapós do Alto Xingu acreditam que a intenção é fazer outros barramentos no rio e se solidarizam com os grupos mais atingidos no desenho atual. Belo Monte também dividiu os juruna do Paquiçamba. Algumas das 23 famílias da reserva são favoráveis à obra. Os outros, liderados por Giliarde, são contra e planejam construir nova aldeia um pouco adiante. Vão abandonar as casas onde sempre viveram e onde a Eletronorte colocou placas de energia solar - que não funcionavam na semana passada. "Belo Monte para nós não vai trazer nenhum benefício", diz Ozimar Juruna. "Vamos ter menos água e mais gente invadindo estas terras." Além do medo do impacto de Belo Monte, os índios da Volta Grande se sentem traídos pela Eletronorte, a Funai e o Ibama. "Eles prometeram oitivas, com gente do Congresso, e diziam vieram só para explicar. E era só palavra técnica, que a gente não entende", reclama Giliarde Juruna, lembrando visita recente dos técnicos do governo. Circula pelas aldeias um DVD do Ministério de Minas e Energia com o título "Oitivas nas Aldeias do Xingu". Os índios dizem que foram enganados e ainda esperam que venham ouvi-los. Este promete ser mais um ponto de atrito. O movimento indígena de oposição a Belo Monte costumava andar colado aos movimentos sociais da região. Até o momento em que os índios se recolheram e resolveram fazer do seu jeito. "É difícil prever o que pode acontecer", diz Marcelo Salazar, coordenador-adjunto do Parque do Xingu do Instituto Socioambiental (ISA). "Os índios estão muito bravos." Na aldeia arara, ninguém anda pelado, todos falam português e as casas não são redondas. Para confundir mais quem espera cocar e caldeirão, à noite, nas horas em que funciona o gerador a diesel, o ritual é ficar bem calado vendo a novela das seis, a das sete e a das oito. Muitos sinais da cultura se perderam e os que resistem não são óbvios. Meninas abrem frutos de urucum e treinam pintura corporal borrando o rosto dos menores e a molecada continua a brincadeira da tarde anterior: acertar cachos de banana com pequenos arcos e flechas pontudas. Para os forasteiros há duas mensagens claras: que os araras estão felizes neste espetacular canto paraense de rio e que ficam tensos quando escutam falar na usina de Belo Monte.

Daniela Chiaretti - http://www.valoronline.com.br/

Arara

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Ode triunfal (Fernando Pessoa)


À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical -
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força -
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem,
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um acesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
Fraternidade com todas as dinâmicas!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!
Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés - oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo!
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos de estatura do Momento!
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas,
Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos portos!
Actividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis,
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E Piccadillies e Avenues de L'Opéra que entram
Pela minh'alma dentro!
Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-lá-hô la foule!
Tudo o que passa, tudo o que pára às montras!
Comerciantes; vários; escrocs exageradamente bem-vestidos;
Membros evidentes de clubes aristocráticos;
Esquálidas figuras dúbias; chefes de família vagamente felizes
E paternais até na corrente de oiro que atravessa o colete
De algibeira a algibeira!
Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa!
Presença demasiadamente acentuada das cocotes
Banalidade interessante (e quem sabe o quê por dentro?)
Das burguesinhas, mãe e filha geralmente,
Que andam na rua com um fim qualquer;
A graça feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos;
E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra
E afinal tem alma lá dentro!
(Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!)
A maravilhosa beleza das corrupções políticas,
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,
Agressões políticas nas ruas,
E de vez em quando o cometa dum regicídio
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!
Notícias desmentidas dos jornais,
Artigos políticos insinceramente sinceros,
Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes -
Duas colunas deles passando para a segunda página!
O cheiro fresco a tinta de tipografia!
Os cartazes postos há pouco, molhados!
Vients-de-paraître amarelos como uma cinta branca!
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,
Como eu vos amo de todas as maneiras,
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfacto
E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!)
E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!
Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura!
Química agrícola, e o comércio quase uma ciência!
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes,
Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indústria,
Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos escritórios!

Ó fazendas nas montras! Ó manequins! Ó últimos figurinos!
Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar!
Olá grandes armazéns com várias secções!
Olá anúncios eléctricos que vêm e estão e desaparecem!
Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem!
Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos!
Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos!
Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera.
Amo-vos carnivoramente.
Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma actual e próxima
Do sistema imediato do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!
Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks,
Ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes -
Na minha mente turbulenta e encandescida
Possuo-vos como a uma mulher bela,
Completamente vos possuo como a uma mulher bela que não se ama,
Que se encontra casualmente e se acha interessantíssima.
Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas!
Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios!
Eh-lá-hô recomposições ministeriais!
Parlamentos, políticas, relatores de orçamentos,
Orçamentos falsificados!
(Um orçamento é tão natural como uma árvore
E um parlamento tão belo como uma borboleta).
Eh-lá o interesse por tudo na vida,
Porque tudo é a vida, desde os brilhantes nas montras
Até à noite ponte misteriosa entre os astros
E o mar antigo e solene, lavando as costas
E sendo misericordiosamente o mesmo
Que era quando Platão era realmente Platão
Na sua presença real e na sua carne com a alma dentro,
E falava com Aristóteles, que havia de não ser discípulo dele.
Eu podia morrer triturado por um motor
Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída.
Atirem-me para dentro das fornalhas!
Metam-me debaixo dos comboios!
Espanquem-me a bordo de navios!
Masoquismo através de maquinismos!
Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho!
Up-lá hô jockey que ganhaste o Derby,
Morder entre dentes o teu cap de duas cores!
(Ser tão alto que não pudesse entrar por nenhuma porta!
Ah, olhar é em mim uma perversão sexual!)
Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais!
Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas.
E ser levado da rua cheio de sangue
Sem ninguém saber quem eu sou!
Ó tramways, funiculares, metropolitanos,
Roçai-vos por mim até ao espasmo!
Hilla! hilla! hilla-hô!
Dai-me gargalhadas em plena cara,
Ó automóveis apinhados de pândegos e de...,
Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas,
Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como quereria!
Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto!
Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro,
As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam,
Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto
E os gestos que faz quando ninguém pode ver!
Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva,
Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome
Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos
Em crispações absurdas em pleno meio das turbas
Nas ruas cheias de encontrões!
Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais,
Cujos filhos roubam às portas das mercearias
E cujas filhas aos oito anos - e eu acho isto belo e amo-o! -
Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada.
A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa
Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão.
Maravilhosamente gente humana que vive como os cães
Que está abaixo de todos os sistemas morais,
Para quem nenhuma religião foi feita,
Nenhuma arte criada,
Nenhuma política destinada para eles!
Como eu vos amo a todos, porque sois assim,
Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus,
Inatingíveis por todos os progressos,
Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida!
(Na nora do quintal da minha casa
O burro anda à roda, anda à roda,
E o mistério do mundo é do tamanho disto.
Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente.
A luz do sol abafa o silêncio das esferas
E havemos todos de morrer,
Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo,
Pinheirais onde a minha infância era outra coisa
Do que eu sou hoje...)
Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!
Outra vez a obsessão movimentada dos ónibus.
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios
De todas as partes do mundo,
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios,
Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das docas.
Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado!
Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores!
Eh-lá grandes desastres de comboios!
Eh-lá desabamentos de galerias de minas!
Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos!
Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá,
Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões,
Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim,
A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa,
E outro Sol no novo Horizonte!
Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto
Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo,
Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje?
Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento,
O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro,
O Momento estridentemente ruidoso e mecânico,
O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes
Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais.
Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar,
Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos,
Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar,
Engenhos brocas, máquinas rotativas!
Eia! eia! eia!
Eia electricidade, nervos doentes da Matéria!
Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente!
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!
Eia todo o passado dentro do presente!
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
Eia! eia! eia!
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!
Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.
Engatam-me em todos os comboios.
Içam-me em todos os cais.
Giro dentro das hélices de todos os navios.
Eia! eia-hô! eia!
Eia! sou o calor mecânico e a electricidade!
Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!
Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!
Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!
Hé-la! He-hô! H-o-o-o-o!
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!
Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!