sábado, 2 de outubro de 2010

"Olhando Belém, enquanto uma canoa desce um rio..." Nilson Chaves.


Vista do "Teatro da Paz", Pça da República, centrão da cidade.

É muito bom quando escutamos pessoas que moram no "Brasil" (sul e sudeste) falarem bem de Belém e do Norte de uma forma geral. Geralmente, vincula-se imagens depreciativas à região Amazônica. De uma forma geral usam alguns atributos sui generis: "terra sem lei", "terra de índio" (como se índio não prestasse), "terra aonde os jacarés andam na rua", "terra sem tecnologia" e assim por diante. Sou da Amazônia, nascida em Macapá. Pouco conheço minha terra, por isso me considero paraense e sou completamente apaixonada por Belém, cidade que me abriga há cerca de 21 anos. Aqui tem cheiro bom, tem cultura transbordando, tem gente bonita, tem boa música, tem gente inteligente, tem negro, tem branco, tem índio, tem gente. Não admito que falem mal do lugar que moro. Não admito isso apenas por ser antropóloga, mas por amar essa cidade, que é gostosa de viver.
Estou escrevendo essa postagem porque recebi por e-mail um texto de um escritor do "Brasil" chamado Zuenir Ventura. Esse texto me fez repensar muitas coisas que ouço de pessoas que migram do "Brasil" para cá. Antes de conhecerem Belém a rotulam com uma imagem preconcebida e depois que chegam, se surpreendem. Alguns se apaixonam pela terra, pelas pessoas, pelo cheiro e pelo sabor antropologicamente maravilhoso que existe por aqui. Leiam o texto e sintam vontade de conhecer a cidade. Tenho certeza que serão bem recebidos. Belém, eu te amo!!!!

Pça. Batista Campos. Bem ao ladinho de minha casa.

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Só vendo (Zuenir Ventura)



Acostumados com o clichê preconceituoso que acredita não haver vida inteligente fora do eixo Rio-São Paulo, nos surpreendemos quando encontramos alguma atividade cultural em cidades do chamado "interior" ? o "centro" somos nós, claro. Por exemplo: onde é possível reunir cerca de 650 mil pessoas, um terço dos moradores, para tratar de um assunto meio fora de moda, a leitura? Pois acabo de ver o fenômeno em Belém, na XIV Feira Pan-Amazônica do Livro, um dos três principais eventos do gênero no Brasil, este ano dedicada à África de fala portuguesa. Houve shows com Gilberto Gil, Lenine, Emílio Santiago, Luiza Possi, mas o des taque foram os R$30 milhões faturados com a venda de 500 mil volumes, superando, segundo os organizadores, a Bienal do Rio.

Há cidades brasileiras que só vendo. A capital do Pará é uma delas. Além de ser uma das mais hospitaleiras do país, gosta de seu passado e é hoje um exemplo de como revitalizá-lo. Já escrevi e repito que a intervenção que o arquiteto Paulo Chaves fez no cais da cidade, transformando armazéns e galpões na monumental Estação das Docas, é uma obra que não deve nada à que foi realizada em Barcelona ou Nova York (o prefeito Eduardo Paes devia ir lá ver). Outro genial exemplo de reaproveitamento é o centro onde se realiza a Feira, o Hangar, um gigantesco espaço que antes, como diz o nome, servia de estacionamento para aviões.

E não fica nisso. Há roteiros culturais como o do núcleo Feliz Lusitânia e seu Museu de Arte Sacra, onde se encontram uma Pietá toda em madeira, o São Sebastião de cabelos ondulados e a famosa N. S. do Leite, com o seio esquerdo à mostra dando de mamar. Sem falar nos museus do Encontro e de Gemas do Pará, e numa ida a Icoaraci para ver as cerâmicas marajoara, tapajônica e rupestre.

Para quem gosta de experiências antropológicas, recomenda-se ? além dos 48 sabores regionais, a maioria, do sorvete Cairu ? uma manhã no mercado Ver-o-Peso, onde me delicio nas barracas de banhos de cheiro lendo os rótulos: "Pega não me larga", "Amansa corno", "Afasta espírito", "Chora nos meus pés". Com destaque para o patchuli, que a vendedora me diz ser o odor de Belém. Mas antes deve-se passar pela área dos peixes: douradas, sardas, tucunarés, enchovas, piranhas, tará-açus. "Esse aqui é o piramutaba", vai me mostrando o nosso guia, o cronista Denis Cavalcanti; "aquele é o mapará, olh a o tamanho desse filhote".

Desta vez, o ponto alto da visita foi uma respeitável velhinha fazendo o comercial do Viagra Amazônico para mim e o Luis Fernando Verissimo: "O sr. dá três sem tirar, e depois ainda toca uma punhetinha". Isso com a cara mais séria do mundo, sem qualquer malícia, como se estivesse receitando um remédio pra dor de cabeça. Só vendo.
 
                    Mercado "Ver-o-Peso"

                                                                                                             Estação das Docas

Só vendo...

       














                  Indiazinha Karajá vive no Mato Grosso. Está aqui representanto a beleza indígena da Amazônia.


3 comentários:

  1. Estive já por aqui e cá estou outra vez. Belo espaço para as letras, para a poesia, para o pensamento... para tornarmos mais claros nossos caminhos! Ao mesmo tempo em que te mobilizo para removermos este triste índice de 2 livros/ano por leitor brasileiro (na Argentina são dezoito livros/ano),
    te convido a conhecer meus romances. Em meu blog, três deles estão disponíveis inclusive para serem baixados “de grátis”, em formato PDF.
    Um grande abraço e boa leitura!

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  2. Já estou conhecendo e gostando. Passo a te seguir e se permitires, postarei teus escritos por aqui. Volte sempre. Um abraço

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  3. sou novo nesse ramo aliás sem nenhuma experiência mesmo, mas adoro poesias ainda mais quando se fala dessa linda cidade que é Belém do Pará!

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