sábado, 31 de outubro de 2009

Flores e livros

Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?


Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor.

Falenas.

Machado para jovens leitores.



Uma eu recebi de meu enteado e outra de meu marido. Eles trouxeram de uma passeio que foram fazer de bicicleta.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

MENSAGEM DO DIA:

"Não descuide de seu amor... cative, cative sempre quem você ama, pois o amor não é uma essência..."

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Ler, ler, ler...

Terminei Balzac agora meterei a cara no Machado de Assis...

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Homem perfeito por Arnaldo Jabor

Bom, acabo de receber essa mensagem de determinada pessoa. Não entendi o real motivo da mensagem, mas gostaria que fosse lido pelos meus seguidores (parece coisa de Igreja, hahaha) e logo após faço alguns comentários sobre...




"Homem Perfeito

Não existe homem fiel. Você já pode ter ouvido isso algumas vezes, mas afirmo com propriedade. Não é desabafo. É palavra de homem que conhece muitos homens e que conhecem, por sua vez, muitos homens. Nenhum homem é fiel, mas pode estar fiel (ou porque está apaixonado (algo que não dura muito tempo - no máximo alguns meses - nem se iluda) ou porque está cercado por todos os lados (veremos adiante que não adianta cercá-lo (isso vai se voltar contra você).A única exceção é o crente extremamente convicto. Se você quer um homem que seja fiel, procure um crente daqueles bitolados, mas agüente as outras conseqüências.

Não desanime. O homem é capaz de te trair e de te amar ao mesmo tempo. A traição do homem é hormonal, efêmera, para satisfazer a lascívia. Não é como a da mulher. Mulher tem que admirar para trair; ter algum envolvimento. O homem só precisa de uma banda. A mulher precisa de um motivo para trair, o homem precisa de uma mulher.

Não fique desencantada com a vida por isso. A traição tem seu lado positivo. Até digo, é um mal necessário. O cara que fica cercado, sem trair, é infeliz no casamento, seu desempenho sexual diminui (isso mesmo, o desempenho com a esposa diminui), ele fica mal da cabeça. Entenda de uma vez por todas: homens e mulheres são diferentes. Se quiser alguém que pense como você, vire lésbica (várias já fizeram isso e deu certo), ou case com um gay enrustido que precisa de uma mulher para se enquadrar no modelo social. Todo ser humano busca a felicidade, a realização. E a realização nada mais é do que a sensação de prazer (isso é química, está tudo no cérebro).

A mulher se realiza satisfazendo o desejo maternal, com a segurança de ter uma família estruturada e saudável, com um bom homem ao lado que a proteja e lhe dê carinho. O homem é mais voltado para a profissão e para a realização pessoal e a realização pessoal dele vêm de diversas formas: pode vir com o sentimento de paternidade, com uma família estruturada etc. Mas nunca vai vir se não puder ter acesso a outras fêmeas e se não puder ter relativo sucesso na profissão.

Se você cercar seu homem (tipo, mulher que é sócia do marido na empresa), o cara não dá um passo no dia-a-dia (sem ela) você vai sufocá-lo de tal forma que ele pode até não ter espaço para lhe trair, mas ou seu casamento vai durar pouco, ele vai ser gordo (vai buscar a fuga na comida) e vai ser pobre (por que não vai ter a cabeça tranqüila para se desenvolver profissionalmente (vai ser um cara sem ambição e sem futuro).

Não tente mudar para seu homem ser fiel. Não adianta. Silicone, curso de dança sensual, se vestir de enfermeira etc... Nada disso vai adiantar. É lógico que quanto mais largada você for, menor a vontade do homem de ficar com você e maior as chances do divórcio. Se perfeição adiantasse, Julia Roberts não tinha casado três vezes. Até Gisele Bündchen foi largada por Di Caprio. Não é você que vai ser diferente (mas é bom não desanimar e sempre dar aquela malhadinha).

O segredo é dar espaço para o homem viajar nos seus desejos (na maioria das vezes, quando ele não está sufocado pela mulher, ele nem chega a trair, fica só nas paqueras, (troca de olhares). Finja que não sabe que ele dá umas pegadas por fora. Isso é o segredo para um bom casamento. Deixe ele se distrair, todos precisam de lazer.

Se você busca o homem perfeito, pode continuar vendo novela das seis. Eles não existem nesse conceito que você imagina. Os homens perfeitos de hoje são aqueles bem desenvolvidos profissionalmente, que traem esporadicamente (uma vez a cada dois meses, por exemplo), mas que respeitam a mulher, ou seja, não gastam o dinheiro da família com amantes, não constituem outra família, não traem muitas vezes, não mantêm relações várias vezes com a mesma mulher (para não criar vínculos) e, sobretudo, são muuuuuito discretos: não deixam a esposa e nem ninguém da sua relação, como amigas, familiares saberem.

Só, e somente só, um amigo ou outro dele deve saber, faz parte do prazer do homem contar vantagem sexual. Pegar e não falar para os amigos é pior do que não pegar. As traições do homem perfeito geralmente são numa escapulida numa boate, ou com uma garota de programa (usando camisinha e sem fazer sexo oral nela), ou mesmo com uma mulher casada de passagem por sua cidade. O homem perfeito nunca trai com mulheres solteiras. Elas são causadoras de problemas. Isso remete ao próximo tópico.

Esse tópico não é para as esposas, é só para as solteiras e amantes.

Esqueçam de uma vez por todas esse negócio de que homem não gosta de mulher fácil. Homem adora mulher fácil. Se 'der' de prima então, é o máximo.Todo homem sabe que não existe mulher santa. Se ela está se fazendo de difícil ele parte para outra. A oferta é muito maior do que a procura. O mercado está cheio de mulher gostosa. O que homem não gosta é de mulher que liga no dia seguinte. Isso não é ser fácil, é ser problemática (mulher problema). Ou, como se diz na gíria: é pepino puro. O fato de você não ligar para o homem e ele gostar de você não quer dizer que foi por você se fazer de difícil, mas sim por você não representar ameaça para ele. Ele vai ficar com tanta simpatia por você que você pode até conseguir fisgá-lo e roubá-lo da mulher. Ele vai começar a se envolver sem perceber. Vai começar a te procurar. Se ele não te procurar, era porque ele só queria aquilo mesmo. Parta para outro e deixe esse de stand by. Não vá se vingar, você só piora a situação e não lucra nada com isso. Não se sinta usada, você também fez uso do corpo dele – faz parte do jogo; guarde como um momento bom de sua vida.

90% dos homens não querem nada sério. Os 10% restantes estão momentaneamente cansados da vida de balada ou estão ficando com má fama por não estarem casados ou enamorados; por isso procuram casamento. Portanto, são máximas as chances do homem mentir em quase tudo que te fala no primeiro encontro (ele só quer te comer, sempre). Não seja idiota, aproveite o momento, finja que acredita que ele está apaixonado, dê logo para ele (e corra o risco de fisgá-lo) ou então nem saia com ele. Fazer doce só agrava a situação. Estamos em 2007 e não em 1957. Esqueça os conselhos da sua avó, os tempos são outros.

Para ser uma boa esposa e para ter um casamento pelo resto da vida faça o seguinte: Tente achar o homem perfeito, dê espaço para ele. Não o sufoque. Ele precisa de um tempo para sua satisfação. Seja uma boa esposa, mantenha-se bonita, malhe, tenha uma profissão (não seja dona-de-casa), seja independente e mantenha o clima legal em casa. Nada de sufocos, de 'conversar sobre a relação', de ficar mexendo no celular dele, de ficar apertando o cerco etc. Você pode até criar 'muros' para ele, mas crie muros invisíveis e não muito altos. Se ele perceber ou ficar sem saída, vai se sentir ameaçado e o casamento vai começar a ruir.

Se você está revoltada por este texto, aqui vai um conselho: vá tomar uma água e volte para ler com o espírito desarmado. Se revoltar com o que está escrito não vai resolver nada em sua vida. Acreditar que o que está aqui é mentira ou exagero pode ser uma boa técnica (iludir-se faz parte da vida, se você é dessas, boa sorte!). Mas tudo é a pura verdade. Seu marido/noivo/namorado te ama, tenha certeza, senão não estaria com você, mas trair é como um remédio; um lubrificante para o motor do carro. Isso é científico. O homem que você deve buscar para ser feliz é o homem perfeito. Diferente disso, ou é crente, ou gay ou tem algum trauma (e na maioria dos casos vão ser pobres). O que você procura pode ser impossível de achar, então, procure algo que você pode achar e seja feliz ao invés de passar a vida inteira procurando algo indefectível que você nunca vai encontrar. Espero ter ajudado em alguma coisa."


Arnaldo Jabor

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Caso de sexo em escola Estadual de Belém




Caso-Um vídeo feito com uma câmera de telefone celular chocou professores e alunos da Escola Estadual de Ensino Médio e Fundamental 'Ulysses Guimarães', no bairro de Nazaré, em Belém. Em dois minutos e meio de gravação, as cenas mostram uma aluna de apenas 13 anos de idade praticando sexo oral dentro de um banheiro da escola com outro aluno, um adolescente de 15 anos de idade. Um terceiro estudante, de 16 anos, registra todo o ato pela câmera do celular. Eles cursam a 8ª e 7ª séries do ensino fundamental e 2º ano do ensino médio, respectivamente. Por meio da tecnologia de transmissão bluetooth, a gravação, feita na manhã de segunda-feira, 19, acabou chegando a outros alunos e anteontem até mesmo a diretora do colégio, Flaviana Couto, já havia assistido as cenas. 'Os pedreiros dessas obras aqui do lado da escola também têm o vídeo', garantiu uma estudante do 'Ulysses Guimarães', que também arquivou as imagens no próprio telefone. 'Todo mundo já sabe, todo mundo tem ou já viu esse vídeo aqui na escola', disse.

Diante da situação, Flaviana Couto chamou os responsáveis dos três alunos envolvidos para uma conversa em particular. Confrontados, os dois rapazes adolescentes alegaram que a armação foi toda da garota, que nega a afirmação deles, mas respondeu 'não sei' a toda oportunidade em que foi questionada sobre o motivo para tal situação. 'Nós chegamos a dispensar os alunos cedo ontem, por volta das 11h15, para evitar constrangimento para os pais e alunos envolvidos, que me encontrariam na própria escola ao meio-dia. Não teve jeito. Muitos ficaram e quando a menina chegou com a mãe no táxi, nomes horríveis foram ditos a ela. Nós só temos a lamentar esse incidente. Nos preocupamos com uma formação íntegra de nossos alunos e essa ocasião não reflete a imagem da nossa escola', afirmou a diretora.

Flaviana contou que alunos, professores e equipe técnica estão chocados em ver os três estudantes envolvidos na situação. 'São alunos com um bom histórico escolar, estudiosos, não são tipo ‘aluno-problema’. Foi terrível sentar com os pais de todos eles e relatar a situação. A mãe dela chorou muito ao chegar aqui', relatou a diretora, também chorando ao lembrar da cena. De acordo com ela, tudo aconteceu dentro de um banheiro que fica na área da quadra de esportes do banheiro. 'É uma área cujo acesso é restrito; a porta fica sempre trancada com um cadeado. Só que há uma pequena brecha perto da porta que permitiu que eles entrassem. Eles aproveitaram o intervalo entre os turnos da manhã e tarde, quando a escola esvazia, para irem até lá', informou.

Redação Portal ORM

domingo, 25 de outubro de 2009

Último pensamento do livro que estou terminando de ler...

"De fato, uma donzela tem demasiadas ilusões, demasiada inexperiência, é o sexo o grande cúplice de seu amor, para que um homem possa se sentir lisonjeado, enquanto uma mulher conhece toda a extensão dos sacrifícios que tem a fazer. Uma é arrastada pela curiosidade, por seduções estranhas à do amor, a outra obedece a um sentimento consciencioso. Uma cede, a outra escolhe. Esta escolha já não é por sim uma imensa lisonja? Dotada de um saber quase sempre caramente pago por desgostos, dando-se, a mulher experiente parece dar mais do que a si própria. Enquanto a donzela, ignorante e crédula, nada sabendo, nada pode comparar nem apreciar, ela aceita o amor e estuda-o. Uma instrui-nos, aconselha-nos em uma idade em que gosta de ser guiado, em que a obediência é um prazer. A outra tudo quer saber, e onde esta se mostra apenas ingênua, mostra-se profundamente terna. Aquela apresenta-vos um só triunfo, esta obriga-nos a combates perpétuos. A primeira só tem lágrimas e prazeres; a segunda, voluptuosidades e remorsos. Para que uma donzela seja amante, deve estar demasiado corrompida, e então abandona-se com horror. Enquanto que uma mulher possui mil meios de conservar ao mesmo tempo o poder e a dignidade. Uma extremamente submissa, oferece-vos tristes garantias de repouso; a outra perde demasiado para não pedir ao amor as suas mil metamorfoses. Uma desonra-se apenas a si; a outra mata em proveito do amante a família inteira. A jovem tem apenas uma garridice, e crê ter dito tudo despindo o vestido. Ao contrário, a mulher tem-nas em grande número e oculta-se em mil véus. Enfim, ela acaricia todas as vaidades, e a noviça apenas lisonjeia uma. Há, além disto, no amor da mulher de 30 anos, certas indecisões, terrores, receios, perturbações e tempestades que o amor de uma donzela nunca pode oferecer. Chegando a essa idade, a mulher pedi ao jovem que lhe restitua a estima que lhe sacrificou. Só vive para ele, ocupa-se do seu futuro, deseja-lhe uma linda existência, torna-lhe a vida até gloriosa. Odedece, pede e ordena, abaixa-se e eleva-se e sabe consolar em mil ocasiões em que à donzela é apenas é dado gemer. Enfim, além de todas as vantagens de sua posição, a mulher de trinta anos pode se tornar jovem, representar todos os países, ser pudica, e embelezar-se até com a própria desgraça. Entre ambas encontra-se o salto incomensurável do previsto ao imprevisto, da força à fraqueza. A mulher de trinta anos satisfaz tudo, e a donzela verdadeira nada pode satisfazer." Balzac.

sábado, 24 de outubro de 2009

Lançamento de livro em Belém.




Lançamento do livro de Márcio Couto Henrique. Título: "Um toque de voyeurismo: o diário íntimo de Couto de Magalhães(1880-1887), dia 04/10/2009, na Universidade Federal do Pará (UFPA), CAPACIT, às 19h. Compareçam, prestigiem e comprem (hehehe). Preço: R$ 35,00.

Pensamento Balzaquiano...

"Ela possuía essa extrema delicadeza da mulher, esse delicioso pudor de sentimento que consiste em calar uma queixa inútil, em não desejar um triunfo que deve humilhar o vencedor e o vencido (...) estes combates tão terríveis, estas angústias íntimas eram obscuras, essas longas melancolias eram desconhecidas. Criatura nenhuma recolhia os seus tristes gemidos, seus olhares ternos, as suas lágrimas cheias de amargura, derramadas na solidão..." Balzac.




Tenham ótimo final de semana...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Balzac diz:

"A sociedade só pode existir pelos sacrifícios individuais que as leis exigem. Aceitar-lhes as vantagens não é obrigar-se a manter as condições que a fazem subsistir? Os desgraçados sem pão, obrigados a respeitar a propriedade alheia, não são mais dignos de lástimas do que as mulheres feridas nos votos e na delicadez de seus sentimentos..."


Vamos interpretar?

Boa leitura,

Mulheres, moças... leiam "A mulher de trinta anos" de Balzac... leitura gostosa demais... O início está sendo bom, imagine o finzinho desse romance... A edição que eu estou lendo é essa aí:




Delícia...

Objetividade e subjetividade... racionalidade ou emoção? Eis o dilema...

A insustentável objetividade do Ser. O cotidiano e as sutilezas entre pesquisador e nativo

Anna Maria Alves Linhares

As “Ficções Parciais” e toda a “Ironia” que faz a discussão sempre mais instigante… a
história do indispensável Professor Nilton


Por que instigante? Nada mais interessante do que contar histórias e estórias… muito mais interessante se torna quando essas histórias tentaram ser vivenciadas a partir de um interesse sempre um tanto objetivo, mas que, como já afirmou Geertz (2001) sempre acabam repousando na tal “ironia antropológica“, sendo aquela que “... repousa ... numa percepção de como a realidade zomba das visões meramente humanas do real...” (2001: 37) ou talvez nas sutilezas ou imponderáveis do cotidiano, ou seja, na “velha” questão da subjetividade versus objetividade.
Mas será que essa discussão é tão “velha” assim? Creio que seja bastante discutida, mas sempre atual. Por que estou discorrendo sobre isso? Como o próprio título desse artigo denuncia, gostaria de tratar um pouco dessa Insustentável Objetividade, visto que possui íntima relação com situações vividas nas pesquisas de campo em ciências sociais e que estão todas ligadas aos relacionamentos que estabelecemos, nós aprendizes de antropólogos ou mesmo os mais “antigos” estudiosos da cultura e do comportamento humana, com nossos informantes.
Isso faz com que nós, cientistas sociais, sejamos às vezes “obrigados” a “relevar” algumas das situações vivenciadas nelas, e termos traquejo para lidar com as mesmas, até porque, nossos objetos de estudos (que na realidade não são objetos e sim pessoas) são dotados de sentimentos, emoções e principalmente esperanças… Dessa forma, percebe-se que a partir dessas sutilezas não dá para sustentar por muito tempo essa tal objetividade que a ciência por tanto tempo almejou e ainda almeja…
Geertz (2001) já discutiu algumas dessas situações que estão ligadas ao ato da pesquisa nas ciências sociais e algumas de suas implicações no que diz respeito à essas questões de subjetividade versus objetividade. Segundo esse autor, o impacto das pesquisas em ciências sociais sobre o caráter de nossa vida acaba ao final sendo determinado pelo próprio tipo de experiência moral que nós viemos a encarnar do que meramente por seus efeitos técnicos. Ele discorre sobre isso, pois os métodos e as teorias da ciência social não estão sendo produzidos por computadores, mas sim, por homens e mulheres que não trabalham em laboratórios, mas, sobretudo em um meio social a que se aplicam os métodos e se transformam as teorias, fazendo com que essa empreitada confira todo um caráter especial e instigante.
Foram exatamente tais reflexões que me motivaram à produção do presente artigo, ainda mais instigadas a partir de discussões que tínhamos na academia, todas elas nas aulas da Pós Graduação em Ciências Sociais, e que exatamente recaíam nessas questões de subjetividade versus objetividade nas pesquisas em ciências sociais.
Algumas das questões analisadas a esse respeito estavam relacionadas com o quê se fazer em campo e de como se portar diante do outro, até porque, uma avaliação das implicações morais do estudo científico da vida humana que não se limite a elegantes zombarias ou celebrações inconseqüentes, deve começar por uma análise da pesquisa social científica como uma modalidade de experiência moral (Geertz, idem).
A partir dessas discussões passei a pensar em algumas das situações que já havia tido experiência na primeira ida ao meu campo de pesquisa a partir do projeto que vinha desenvolvendo e que me fizeram refletir ainda mais o lugar do pesquisador em campo.

Início da história com o “tal” professor Nilton…

No projeto de pesquisa que desenvolvi na Pós Graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Pará estudei especificamente cultura material popular pretendendo fazer o levantamento da produção das réplicas e cópias da cerâmica marajoara que são produzidas no município de Cachoeira do Arari, na ilha do Marajó, Pará. A primeira ida à campo foi em 2005 no período de julho, quando fui desenvolver um trabalho específico de revitalização do Museu do Marajó junto a uma grande equipe de alunos e pesquisadores da Universidade Federal do Pará e do Museu Paraense Emílio Goeldi.
Nesse trabalho de revitalização a ajuda de pessoas da comunidade de Cachoeira do Arari foi de suma importância, pois elas possuíam um amplo conhecimento do museu e de sua exposição, assim como sabiam a melhor forma de manuseio do material e a identificação de todos os objetos pertencentes ao acervo. Foi a partir desse primeiro contato com a comunidade e estendendo-se a todos as reflexões em sala de aula, que essas questões vieram à tona. No meu caso especificamente, uma pessoa na qual tive mais contato da comunidade me fez refletir essas questões da relação pesquisador e nativo. Essa pessoa foi o professor da comunidade, como já citado, Nilton.
Nilton é professor de uma escola no local, mas não falava muito de sua profissão, não sei por que motivo, mas de outras coisas discursava e muito bem. Com todo um “jeitão” de intelectual sempre vinha com discursório sobre os primeiros povos que habitavam o Marajó e da cerâmica marajoara… Quando falei de meu interesse pelo estudo então… A partir dessa nossa conversa que fluía dentro do acervo enquanto ele ia mostrando-me todas as cerâmicas e enquanto eu falava de meu projeto, o professor Nilton passou a ser a pessoa mais indispensável a minha pessoa. Mostrou-se solícito para levar-me a todas as olarias, para falar de todas as cerâmicas e motivos contidos nas peças, assim como falava horas a fio de todas as suas experiências nos tesos7 arqueológicos que já havia visitado. “Abriu os olhos” quando disse que minha pesquisa era atrelada ao Mestrado em Antropologia, demonstrando como se sentia feliz em ter conhecimento de projetos de mestrado que se “preocupam” com o município.
O interessante é que em nenhum momento esbocei qualquer preocupação com o município. Professor Nilton me levou em todas as olarias, apresentou-me a todos os artesãos que se encontravam no local, fez questão de passear comigo por toda cidade para mostrar as “belezas” do Marajó, como ele mesmo dizia, assim como falou dos tesos e cerâmicas encontradas nesses locais. Para finalizar disse que queria levar toda a equipe para uma pracinha do local à noite, pois nós não poderíamos sair de lá sem tomar o leite-de-onça , uma bebida maravilhosa, segundo o professor Nilton, e que seria por “conta da casa”.
Foi a partir de então que ele “abriu o verbo”… nessa noite o professor levou uns três ou quatro garrafões da tal bebida, mas o engraçado foi que ele bebeu muito mais que todos, e a partir do efeito que o “leite-de-onça” lhe causou, ele começou a falar, a desabafar… tudo começou com a história de uma máquina digital que eu carregava para cima e para baixo registrando o museu, assim como a cidade.
Ele me disse que não dispensaria nenhuma das fotos que eu havia tirado por meio daquela “impressionante máquina”, como ele sempre dizia, assim como me intimou a acordar às 6 horas da manhã do outro dia para fazer as fotos da travessia da imagem de São Sebastião para uma fazenda da região (agora imagine acordar às 6 horas da manhã depois de tanto leite-de-onça!). Principalmente o professor Nilton.... Depois ele começou a falar de milhares de pesquisadores e repórteres do mundo todo que por ali já haviam passado e que sempre prometiam mandar todo o material registrado fotograficamente ou das reportagens realizadas e que nunca mandavam (aí já me senti mais pressionada ainda), sem contar que essas pessoas nunca davam créditos em seus trabalhos às pessoas da comunidade onde nunca eram citados em seus livros e no que escreviam sobre o local.
Essa situação de forma específica, me fez refletir a questão da experiência moral enquanto uma modalidade que na grande maioria das vezes, o seu narrador (o informante do antropólogo ou do cientista social), espera muitas coisas desse pesquisador, cria expectativas e também cria uma imagem do pesquisador enquanto uma pessoa que pode mudar ou transformar a situação de seu local e até de sua vida, pois, como afirmou Geertz (idem), os primeiros indícios são os pedidos claros de ajuda material e serviços pessoais por parte dessas pessoas.
Creio que seja nisso que repousa a “ironia antropológica“ discutida por Geertz (idem) na medida em que todas essas expectativas e esperanças vindas em sua maioria dos sujeitos pesquisados, nem sempre são retribuídas, até porque isso não faz parte do trabalho do cientista social, mas que não impede que isso possa se dá e ser retribuído por alguns deles. Quer queira quer não, o pesquisador acaba sempre sendo colocado em uma posição moral, é como se o pesquisador representasse uma vitrine ambulante de oportunidades que eles logo terão na vida (Geertz, idem, p. 38).
Voltando ao relato da história do professor, após todo o falatório ele ainda disse: “quando você voltar novamente para fazer pesquisa, quero observar tudo e toda a sua pesquisa, e após ela pronta gostaria de uma cópia para guardar no museu“. Enfim, o professor Nilton fechou o encontro com muito “leite-de-onça” e sentindo-se muito a vontade para fazer todas as suas exigências e “botar para fora” o que sentia em relação a outras pessoas que por ali passaram. “Pretendo não ser mais traído, já não agüento dar informação e não ver retorno disso”, disse ele, e, para completar, no dia de retorno a Belém, o professor ainda veio no mesmo barco que a equipe para Belém para “cuidar de alguns negócios”.
Quando foi se despedir disse: “não esqueço mais dessa maravilhosa equipe, espero que vocês possam voltar sempre para poderem fazer uma outra revitalização como essa que vocês fizeram no museu, pois o povo da comunidade não faz…” Olhou para mim e disse: “olha, não esqueça de mim…”
Recordando essa situação, refleti também a questão da “ficção parcial”, pois são a partir dessas ficções que essas relações conseguem ser mantidas por determinado tempo, ou seja, como verdades parciais, e, mais ou menos percebidas, a relação entre ambos até progride bem (Geertz, idem, idem).
A partir do ocorrido, eu, na minha angústia e também ingenuidade do primeiro contato com alguém em campo, depois de tantas exigências, a primeira coisa que fiz ao chegar a Belém, foi passar as mil fotos (é a capacidade que a maravilhosa máquina - segundo o professor - tem de armazenagem) para o computador e gravá-las em um Cd sem nenhuma triagem do material.
Mandei logo, logo para o museu! Depois de ter mandado, liguei várias vezes para falar com ele para ter conhecimento se ele especificamente já tinha tido acesso a todo o material, mas infelizmente não conseguir falar com o mesmo nenhuma das vezes. De qualquer forma fiquei tranqüila, pois algumas pessoas do museu me disseram que tinham visto todas as fotos e acharam lindas. Até então fiquei despreocupada.
Cinco meses depois, no início do mês de dezembro de 2005 ocorreu o lançamento da terceira edição de um livro na Estação das Docas. O livro que estava sendo relançado era Os motivos ornamentais da cerâmica Marajoara, produzido por Giovanni Gallo, um padre que atuou assistencialmente durante anos no município de Cachoeira do Arari e que foi uma das pessoas que arquitetou e direcionou o Museu do Marajó de forma mais atuante.
Então, já se pode imaginar como foi o lançamento do livro: muito carimbó, exposição de algumas peças do museu, exposição de fotografias de algumas réplicas da cerâmica marajoara, distribuição de frito do marajó, queijo do marajó (não distribuíram o leite-de-onça) e claro, o lançamento de terceira edição do livro. Como tinham peças do acervo, algumas pessoas do Museu do Marajó estiveram no local para monitorar a exposição, e adivinhe só quem estava monitorando? O Professor Nilton.
Quando cheguei à exposição o mesmo me saudou com muita alegria, perguntou quando eu iria voltar à Cachoeira do Arari, pois achava que eu deveria voltar em janeiro, já que nesse período seria realizado dez dias de festividade de São Sebastião e logo em seguida disse: “você mandou as fotos no Cd, mas não tive a oportunidade de ver nenhuma foto, pois
sabe como é, as pessoas vivem tentando passar a perna em mim no museu, e por isso acabam escondendo as coisas de mim… tu poderias revelar as fotos e levar quando voltasse lá, olha mas não precisa ser todas….os artesãos estão te esperando…”
Nesse momento fiquei sem palavras e afirmei positivamente. Logo em seguida me despedi e depois senti um tanto de desespero e irritação, pois pensei logo o quanto iria ter que gastar em dinheiro com a revelação dessas fotos digitais e ainda tem mais: fazer a triagem das “melhores” fotos para o professor Nilton dentre mais de mil fotos!
Foi exatamente nesse momento que pude perceber literalmente essa insustentável objetividade entre pesquisador e nativo, pois um misto de irritação e ansiedade tomou conta de minha pessoa, principalmente por ter me percebido diante de alguém que por sua posição profissional e perante a comunidade parece ser uma figura principal. E se eu não levar reveladas as tais fotos tão cobiçadas? Como mesmo afirmou professor Nilton, os artesãos estão me esperando…
Essa experiência veio a confirmar o quão difícil, na maioria das vezes, podem ser essas relações estabelecidas entre pesquisador e informante no campo de pesquisa, e também como se tornam complicados de solucionar determinados conflitos que possam vir a surgir, como essa situação caso eu não leve ao professor todas as fotos que exigiu de minha pessoa (Lembrar que Geertz entrou em conflito com seu melhor informante por causa de uma máquina de escrever!).
São questões na qual o cientista social passará e na qual precisará criar estratégias de como lidar com as mesmas, haja vista que não existem “fórmulas mágicas” para lidar com essas situações vivenciadas em campo, pois como já afirmou Geertz (idem): “comprometer-se com o estilo de pensamento chamado ciências sociais é tentar transcender a defasagem lógica que os separa através de um padrão de comportamento que, abarcando-os numa experiência unitária, ligue-os racionalmente. A vocação para confrontar diretamente o divórcio entre a razão e o sentimento (p.46)“.
Enfim, a pesquisa e a relação estabelecida entre pesquisador e pesquisado como percebida e sempre discutida parece sempre estar permeada dessas situações que muitas vezes acabam deixando o cientista social de “saia justa“, mas que, outras vezes acabam sendo engraçadas e divertidas. É isso que faz da ciência social uma ciência instigante…

3. Referências Bibliográficas:
GEERTZ, Clifford. “O pensamento como ato moral: dimensões éticas do trabalho de campo antropológico nos países novos“ IN Nova Luz sobre a Antropologia. Rio de Janeiro. Jorge Zahar, 2001: pp.30-46.
LINHARES, Anna Maria Alves. De “caco” a “espetáculo”: a produção de cerâmica de Cachoeira do Arari, ilha do Marajó, Pará, Dissertação de Mestrado, Belém, UFPA, 2007
SCHAAN, Denise. “Cerâmica para festas, ritos e funerais: o simbolismo sagrado da Arte Marajoara“ IN Brésil Indien: Lês Arts dês Amérindiens du Brésil. GRUPIONI, L. D. (ed). Editions Hoebeke. Paris, 2005.